Histeria coletiva
Essa histeria coletiva
Não satisfaz o meu ego
Preciso de um duplo aguardente
Antes que eu me apavore
Antes do afogamento neste horror
Antes que eu estremeça
E a meus sentidos pareça
Antecipei a minha morte
Antes que eu finde
De dormência mental
Antes dos quarenta
A febre dessa histeria
É coletiva e epidêmica
E ameaça impregnar
Quem dela se aproxime
E quem dela se abstém
Quem sabe uma tripla dose
de aguardente
Quem sabe um imunizante
Me injete um anticorpo
E esse corpo rejeite
essa histeria
Eu não te quero
A esse corpo não se conecte
eu não te quero
Que esse corpo renegue
Em ladainha
Eu só desejo dessa histeria
o calor sem transmissão
Um corpo sem alumínio
madeira
tecido
um corpo em vão
Essa ira que eles cantam
se aprofunde apenas neles mesmos
por inanição
E os devore
E mais os reduza
em números tais
que os nossos se avolumem
Esse desejo de involução
ordem de retrocesso
não seja neste século
uma exaltação jorrando chuva aos ventos
Tragam cinco doses extras de rum
e uma ponte para atravessar
o caudaloso rio sem margem
A potente embriaguez me bastará
e para amanhã
um canto gregoriano
Pois agora
Invada os meus ouvidos
a melancolia de um sax
e em meu devaneio
Instale-se uma ilha
como quem se libertou
Essa histeria é tão exata
que não bastará a minha ira
nem o meu asco
Ela cega todo olho que se aproxima
logra e fascina
Não, eu não a quero
Atravesso o rio
ainda que a ponte não venha
Digo sim à ilha
Tomo uma dose e deito
Depois amanheço
Amanhã me bastará.